quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Calor

O frio intenso é uma barreira. Mas ela se quebra.
Como se faz teatro no frio? Tem como.
O calor intenso é uma barreia. Mas essa barreira não se quebra tão facilmente.
Quando seu corpo parece estar derretendo, quando sua respiração está ofegante e a única coisa que você esta fazendo é estar sentado, eu lhe pergunto: como sobreviver?
O corpo humano é uma bolsa de água gigantesca. Se essa bolsa se seca um pouco, a situação fica complicada.
Tentamos recompor a água perdida, mas parece que a bolsa furou, e quanto mais água se coloca, mais sai.

As condições extremas são um choque para a prática teatral e também para a vida cotidiana. Mas o treino em si já é um desafio. O treino em si é desgastante e cruel, muito de suas vezes. Misturado, ou acoplado, plasmado, juntado, fundido, com o calor torrencial é um desafio complicado, onde o único objetivo é manter-se de pé.

Hoje odiei o calor, as pessoas, algumas palavras. Quero frio, quero silêncio, quero ficar no ermo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Nervos

Sou um porco.
Um bosta, um baita bosta.
Minhas palavras não tem importância alguma. Não tenho direito de usar elas. Não tenho sequer a menor capacidade de tentar pensar em mencioná-las.
Sou um sujo.
Queria ser alguém que não sou.
Hoje sou um doente, um ninguém.

Um dia serei alguém que quero ser.
Certamente não.
Observando o termômetro, a temperatura caiu bruscamente em meu cérebro e em meu corpo. Os níveis de minha saúde mental estão decaindo.
Eu preciso urgentemente de um injeção quase letal, ou que me paralise por alguns meses, numa situação na qual eu esteja livre.

Liberdade não é pouco.
Liberdade, na verdade, é nada.
Tudo é um nada. E continuando ou ficando, ainda sou um porco. Ainda escrevo excrementos de pensamentos, cuspis, catarros de mim, a parte mais escrota.
Estou sangrando.
Cuspo sangue.
Lambo minhas feridas.
Pois sou um porco,
Sou um nada.
Sou ninguém.

Que me cortem, que me aniquilem, que me queimem vivo e ao vivo na praça, para todas as crianças verem. Para meus ‘amigos’ verem. Eu de cabeça para baixo, com os pulsos amarrados nos tornozelos, depois que eu ficar inconsciente, me coloquem numa cruz de cabeça pra baixo ainda. Não estarei lúcido ou algo do gênero, para apreciar, mas apreciem por mim.
Comprem rosas vermelhas, e joguem suas pétalas em mim, para fazer fogo. Abram um corte em minha cabeça, para meu cérebro preto, podre, fedido, expulsando as minhas idéias através de um pus alaranjado, fique amostra a todos. Minha cabeça ficara de pendurada.
Será a primeira parte do meu corpo a cair.
Joguem meu resto aos porcos.
Assim me sentirei em casa.
Eles me devorando.
Arrotando a minha carne queimada.
Cagando e comendo a própria merda.
Que é eu.