terça-feira, 21 de junho de 2011

Eu como espectador

Não é um medo do desnudamento intelectual. Não isso.
Mas simplesmente uma irritação, um desconforto enorme que sinto com o fazer teatral que me rodeia. E esse fazer teatral, que aquilo falo, é a partir da visão de espectador. Dos últimos espetáculos e trabalhos que observei, a forma como elas foram apresentadas não me agradaram. Não as julgo tecnicamente. Há várias formas de teatros. Vários tipos de atores. E espectadores.
Como espectador a minha sede é imensa! Estamos em junho e apenas dois espetáculos me agradaram nesse ano. Dois. Penso se sou chato, ou exigente demais, ou que não sei ler... Mas não é isso. Algumas peças foram tecnicamente perfeitas, independente do seu gênero. Outras não cabe comentários. Mas esse vazio aqui dentro, esse vazio de espectador, essa gana por ver algo além continua. Necessito de uma chama, uma raiva, sangue nos olhos do ator em cena. Ele despertando o meu desconforto. Ele me desmascarando. Eu necessito de teatro, eu necessito ver "um ausente caminhando no tablado", uma morte em meus plenos olhos. Efêmero. Com toda a maldição teatral possível. Eu e meus colegas tentamos isso, mas não vejo nos olhos dos outros, no suor dos outros (suor é que há de menos), na pele, na sombra, no silêncio do espectador de olhos abertos e alma despedaçada.

Serei espectador em outras oportunidades ainda.
Ator em outras, e nessa função o trabalho é gigantesco e longo - e que agora não vou descrever nem falar.

Mas como espectador estou insatisfeito.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

010203

De repente os vi assim, assim... Cadê o gesto destruidor? Cadê aquele olhar recheado de cacos de vidros? A pele formigando, disparando objetos metálicos contra as nossas máscaras?
Cadê?
Os atores continuam mortos, Artaud. Não vejo eles. São reproduções que não exigem nem suor.
Nem suor!
SUOR!
A cara limpa no final, o corpo cheiroso, o público abrindo a boca fazendo música de sono, é isso?
Isso é teatro?

Meu caro, teus gritos impressos é mais rico, mais vivo...
Essa gente está destruindo as coisas. Me esforço para mim mesmo, para manter-me vivo, mesmo me escondendo às vezes, o vazio vai se enchendo aos poucos, só pelas beiradas, deixando o deserto no centro escuro e frio, mas vou queimando as bordas... e o resto? Meu caro, a coisa está feia...
O espaço vazio do tablado é maior que os atores. Há o que de sagrado e arte nisso?

Próxima página...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Alpinistas

Inquietação estranha.
Não sei quantas perguntas e quantas dúvidas surgirão ainda. De certo é normal.
Mas de uma forma cruel tudo parece estar caminhando numa corda bamba molhda de sereno. É noite. Sempre é noite. O corpo nu treme diante de todos os olhos. E vem a água gelada no corpo quente. Fumaça. Fumaça e mais fumaça. Não é o corpo queimando, não é a santidade. Não sou digno, não para os olhos. Mas depois é cinzas. Agora é cinzas.
O corpo já fala por si só. Já não para e nem olha para os lados ao atravessar a rua. Os olhos, quase cegos, enfrentam faróis como quem procura algum degrau no abismo. O que se faz?
Dimensão utópica. Palco utópico. Falas e mais falas absurdas repelindo minha atenção.
Do outro lado, sentada e observando de pernas cruzadas, tocando o peito para não vomitar.
Aqui eu corro. Peito nu. Corpo nu. Jogado ao espaço e morrendo. Com o vento gelado cortando os pulmões, secando a garganta, amassando o cérebro. Suando frio. Sem saber de nada. Merda.
Aqui não tem volta.
E por aí?