domingo, 17 de julho de 2011

Despenetrar

Talvez seja um pequeno devaneio de quem fica pensando na vida de ator. Talvez seja um pequeno olhar sobre essa forma efêmera de arte e tão ardente. Estudos e mais estudos, peças e mais peças, a arte de interpretar. Interpretar. Bom, sabemos que hoje o ator já não necessita estar interpretando um papel como o século 19, 18 ou outra coisa parecida. A coisa já ultrapassou esse limite. Fiquei pensando ao ler o texto do Novarina que ele diz que o ator deve ser dissecado em cena. Grotowski fala em autopenetração, o ator morrendo em cena num autosacrifício. Com todos respeito, o ator hoje não interpreta, talvez nem no máximo da interpretação ele também esteja fazendo isso. É um despenetração na verdade. Como dissecar um ator em cena? O ator em cena, o ator quando esta realmente em cena, não existe. Ele queima no primeiro segundo. Naquele primeiro segundo da cena que ele realmente sabe que não tem volta. Como dissecá-lo? Como dizer que ele está realizando um papel? Ele está deixando seu corpo livre. Não há pensamentos, barreiras que o impossibilita disso ou daquilo. Ele queima. No final o chão está preto, as paredes derretidas, nenhum resto de teto, o céu aberto sobre todos e o ator não se torna nem uma estrela, ele se torna alguma chama tão viva, mas tão viva que sua permaneça diante de nosso olhos não poderia seguir viva. Não conseguiríamos ficar olhando aquela chama arder eternamente, com metros e metros de fogo, fazendo nossa pupila rejeitar que os olhos fiquem abertos, o pulmão respirando um ar quente que paralisa os músculos do corpo deixando todos tensos...
A arte de se despenetrar. Deixar o corpo oco. Sair daqui, não estar nem lá. Ficar nem um pouco. Jamais. CSO?
Devaneio. Um pouco do que penso por agora. Falta isso. O corpo queimar e a chama tomar conta de qualquer lugar. Por maior que seja. Por maior que seja.