quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Marlowe
sábado, 18 de dezembro de 2010
Desencontro
domingo, 12 de dezembro de 2010
sobressaltos
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Heterônimo, qual?
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
relapsos
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
calor
sábado, 6 de novembro de 2010
Experimentalismo - I - Diálogo
Ricardo
Tem um filósofo, meio matemático, ou era um físico? Que importa? Ele fez um cálculo, que envolvia o tempo, coisas das estrelas, a porra do universo... Essas coisas. E ele chegou numa conclusão. Disse que o tempo é cíclico. Tudo isso que está acontecendo, eu aqui sentando nessa cadeira, bebendo uma cerveja, falando com você e você ai escutando e tal, isso já aconteceu. Mais de uma vez. E vai acontecer mais vezes. Não entendi direito. Nem se eu acredito. Mas, se for verdade, que merda.
Flávia
Isso é um daqueles sensacionalistas.
Ricardo
Que? Não tem nada a ver. Ele comprovou cientificamente. Há alguns séculos atrás seria impossível. Mas imaginar, tudo isso se repetindo. Só nesta hora, nessa vida, tanta coisa retorna. É meio pesado. Lembro de... Não sei se lembrar é bom.
Flávia
Ricardo, calma. Lembra o que o Cláudio falou? "Paciência! E é preciso ocupar a mente com coisas construitivas e não destrutivas!"
Ricardo
Aham. Depois de três anos. Três vidas. Três mil séculos. Se essa merda toda está repetindo, porque eu não me acostumo. Será que daqui a pouco eu vou fazer aquilo que penso desde aquela segunda. Será? A foto no jornal, o sangue coagulado, o rosto irreconhecível. Alma voando, alma sem penas. Alma despenada. Aquele sopro na nuca de alguns...
Flávia
Ricardo!
Ricardo
Às vezes penso no vento tocando meu rosto, levando ele um pouco pra trás, o ar gelado. Os cabelos leves, o corpo leve, em alta velocidade em encontro ao centro da Terra. O coração saltindando de tanta adrenalina incontrolável. Segundos eternos. Livre. Pá! Um outro ciclo de novo.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Apenas do lado de lá
terça-feira, 2 de novembro de 2010
O veículo: ARTE
É estranho se perceber vivo. Imaginar todo o tempo perdido e todo o tempo que ainda deve se criar. Mas foi complicado, delicioso, pertinente, excitante, amável e triste.
A cada verso novo, a cada traço na tela, nota cortante, corpo desfeito, corpo entregue, a cada segundo, a cada noção desse segundo, a cada momento em que não se percebia esse segundo, e tantos outros... O veículo da vida.
Não se trata aqui de técnica, nem de compreensão a respeito de certas normas, ou discursos. Não. Nem sobre aquele ponto da onde toda a energia se irradia, que se alastra tomando conta do ambiente todo.
Talvez seja o encontro. Grotowski estava certo. Artaud estava certo. Eles estão certos. Bataille também. Mozart. Vininha. Van Gogh. Quem mais? Todos. Tudo, qualquer coisa. Qualque coisa no limítrofe entre o nada e toda a sua essência. Naquela cadência calma, que não existe e que se torna agitada, ressoando uma nota lá em cima, que toca tudo. Num piscar de olhos, num momento seco, no outro enxarcado.
Me pergunto como será amanhã? Agora que a ignorância se faz presente. Que finalmente um mapa se estabeleceu - sem coordenadas, sem limites, territórios mil - , que a respiração é ´rápida e sem consciência.
'O corte seco ainda sangra?' 'Medíocres de todo o mundo, eu os absolvo.' 'Penso, logo, esculhambo.'
Meus amigos, minhas amigas, é feriado. O mundo dorme lá fora, e eu grito aqui dentro.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Os olhos despertam junto ao grito angustiante da alvorada. Quem nunca ouviu falar em suicídio? E me sinto sozinho depois de três horas acordado. O mundo no seu lado claro me faz falar com Apolo. Minha pele se desseca ao espelho. Todo meu ser agora é errante. Dane-se. Ando um pouco por algum lugar que não conheço, algum lugar não decorado, sem tempo, sem ritmo, algum lugar onde não seja uma marionete. Mas meus olhos voltam a pintar tudo a minha volta. Sinto os violinos nos músculos, os sopranos me tirando o ar. O coração brincando de um pé aqui outro acolá. A imagem na qual eu não crio nunca (tirando em sonhos) se forma na minha frente, em volta de pássaros azuis e pequenos animais infantis bem alegres como de costume. Ela surge de uma forma estranha, como se eu fosse um desesperado e ela a fé, eu um navio a deriva como se ela fosse o mar inteiro e qualquer lugar que eu ancorar terá o farol de seus olhos. Mas que é isso? Balanço a cabeça e meu cérebro parece se deslocar, vira de ponto cabeça e acordo. Cachorros comem o resto de uma perna humana em frente a minha casa, e um caminhão buzina contra uma senhora que come o resto de uma pata de cachorro. O mundo se vira contra mim em uma maré de sangue coagulado e fedido como a comida que me servem no almoço. Cadê aquela imagem? Se desfez. Ela se desfez. Ela precisa se suicidar de mim. A cada pequeno espaço de intimidade.
sábado, 25 de setembro de 2010
Vim da estrela norte, encontrando a vida e a morte
domingo, 19 de setembro de 2010
Que seja!
domingo, 12 de setembro de 2010
esperando godot
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
numa certa manhã
sábado, 7 de agosto de 2010
morte e vida
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Fantástico
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Solidão
Há algumas horas atrás, em algum ponto da cidade, em alguma fração da noite, eu andava pelas ruas dessa cidade que durante o dia é cinza e durante a noite é alaranjada.
Andava indo pra um lugar que não gosto. Onde o ar é pesado e meus pulmões parecem inalar algo pior que toda essa nicotina que me acompanha. Andava e ficava falando comigo mesmo. Falando longos solilóquios que poderiam ser comparados a grandes romances e a pequenas, e ridículas, indagações de alguém que será esquecido. Tinha saído de uma festa de aniversário, havia um grupo de pessoas lá. Me perguntei se daqui a dez anos alguns deles vão se lembrar de mim. Acredito que não. Poucos. Talvez um. Talvez dois no máximo. Para esses talvez eu fique na memória, numa parte restrita da lembrança deles. Para o resto eu serei o resto. Um fiapo no meio da trajetória deles. Apenas uma pessoa no meio de poucas fotos em que apareço.
E penso em que se lembra de mim, e de quem ainda me guarda no peito com tanto zelo e admiração. Retorno então às poucas pessoas que ainda suportam os meus erros e minha difícil personalidade. E, recortando mais, chego àqueles que me colocaram no mundo, primeiramente. Eles que me desculpem, mas me colocaram nesse mundo, repleto de tédio e estupidez, mas também de delícias e tantas formas de poesias. Agora vou viver! Não quero que travem uma guerra contra mim me impedindo o mínimo de liberdade, a um ser que não existe. Sim, não existo. Estou morto, não confie em minhas palavras, pois vocês terão muito que dizer, para eu acreditar em uma frase sua.
Sou jovem demais para não saber de tudo. Sou um cretino distribuído em várias máscaras audaciosas. Tente me decifrar, não tenha pressa, a noite é bem longa. Longa mesmo.
E então os rostos caem. Pois o choro dela me atingiu. Ela colocou em cena toda a sua tristeza, todo o seu medo – um claro momento de despojamento total – bem em frente dos meus olhos secos. Para onde eu poderia ir? Para onde eu poderia ir? Não haveria lugar. O corpo dela estava sentado, coluna ereta, mão juntas no vazio entre as pernas, os pés entrelaçados com apenas o pé direito tocando o chão. Não havia ação exterior. Mas a respiração estava agindo, e só ela já me tocava. A fala vinha de algum lugar, mas esse lugar não conheço, não posso afirmar como aquela voz surgiu. Era uma voz viva que tocava a morte. A morte de tantas idéias, pensamentos, suposições. Mas colocava tantas outras em ação contínua.
Não queria estar ali.
Mas nessa condição, em que eu estava na rua de noite, só, não haveria situação melhor de paz.
‘As ruas vazias, poucas pessoas passando. Alguns carros rodam indo de lugar a lugar. A Lua lá em cima me provoca, sabe que pequei várias vezes sob seus olhares, e que muito a desejei como todas as minhas paixões impossíveis. E a rua está calma. Tudo tem um ar de calmo. Até as poucas janelas acessas dos prédios são calmas. Leves! Tudo é leve.
A fumaça entra em meu pulmão, trago mais duas vezes. Acendo outro cigarro. Agora só tenho um. Acabou.
Não há ninguém agora na rua. Não há ninguém me perturbando. Não sei as horas. Me perdi nos dias. E não sobraram verbos. Não existe interjeições possíveis para este momento. Estou em paz, comigo, com o mundo, com o todo.’
Pena que ao rever todos, todos daquele grupo, todos que me jogaram nesse mundo, me verão com o último olhar que me viram. Com tudo aquilo que deixei pra eles. Com tudo aquilo que fui nos últimos momentos. Mas não me verão, com os seus olhos, de quando eu estava na rua. Liberto. Despojado com a Lua, com a calçada, com o cigarro, com meus pensamentos, com a respiração fraca, com as mãos frias, arrumando o casaco...
Solidão. A solidão faz tudo tomar um valor maior.
Solidão em público.
Solidão de si mesmo.