terça-feira, 12 de outubro de 2010

As articulações da minha mão estão pálidas e medrosas. Do outro lado todo o horizonte tímido de seu corpo. Mas que horas são? Nos últimos dias nesse exato momento o espaço estava livre, não havia nenhum sinal humano para atrapalhar o nada e esse muro construído em toda a sua volta, para te proteger da vida. “Eu tenho que acordar cedo amanhã.” Quem esta por aqui? Será que tenho que reviver aqueles velhos princípios? Não há tempo para perguntas. Os lábios macios estão dançando, cortam o ar com mil mentiras, mil banalidades, balelas soltas e atrevidas que me encantam. Fecho a porta, e assim o mundo inteiro. Tomo consciência do irreal, de toda aquela chuva dourada que os poetas deixam subentendido. Há um pequeno sinal de silêncio a vir. Silêncio.
Os olhos despertam junto ao grito angustiante da alvorada. Quem nunca ouviu falar em suicídio? E me sinto sozinho depois de três horas acordado. O mundo no seu lado claro me faz falar com Apolo. Minha pele se desseca ao espelho. Todo meu ser agora é errante. Dane-se. Ando um pouco por algum lugar que não conheço, algum lugar não decorado, sem tempo, sem ritmo, algum lugar onde não seja uma marionete. Mas meus olhos voltam a pintar tudo a minha volta. Sinto os violinos nos músculos, os sopranos me tirando o ar. O coração brincando de um pé aqui outro acolá. A imagem na qual eu não crio nunca (tirando em sonhos) se forma na minha frente, em volta de pássaros azuis e pequenos animais infantis bem alegres como de costume. Ela surge de uma forma estranha, como se eu fosse um desesperado e ela a fé, eu um navio a deriva como se ela fosse o mar inteiro e qualquer lugar que eu ancorar terá o farol de seus olhos. Mas que é isso? Balanço a cabeça e meu cérebro parece se deslocar, vira de ponto cabeça e acordo. Cachorros comem o resto de uma perna humana em frente a minha casa, e um caminhão buzina contra uma senhora que come o resto de uma pata de cachorro. O mundo se vira contra mim em uma maré de sangue coagulado e fedido como a comida que me servem no almoço. Cadê aquela imagem? Se desfez. Ela se desfez. Ela precisa se suicidar de mim. A cada pequeno espaço de intimidade.