quarta-feira, 30 de março de 2011

Os alpinistas

Chove na montanha. Lá na base quatro homens levemente perdidos e com frio. Há entre eles, está pra chegar - foi subiu a montanha e está voltando - um homem que sabe, ou tenta mostrar, o caminho para chegar a esse primeiro topo. Ou melhor, a primeira base da montanha. Carregamos algumas coisas nas mochilas. Não sei direito o que meus colegas carregam. E quando eu abro a minha mochila nem tudo é possível ver. Há muita coisa. Pesa. Mas qual medida uso pra saber que isso realmente pesa? Talvez esteja envelhecendo nesse frio. Talvez algumas marcas estejam se firmando. Talvez isso seja errado. Talvez não. Talvez... talvez... Eu não conheço a montanha, acho que ninguém conhece, e acredito que nem sempre ela esteve aqui. E se ela ficar, cada dia vai mudar um pouco, ou crescer, ou ir para o lado, ou tomar um café e voltar, esperar na varanda que um outro alguém chegue...
Daqui o céu está nublado, há cerração, muito vento e frio. A previsão diz que o tempo vai abrir.
Mas dá pra se confiar no clima da montanha?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Limite

Dentro desses dois meses, Janeiro até agora, machuquei-me fisicamente duas vezes. As duas vezes por que ultrapassei o meu limite corporal. Várias vezes, nesses três anos de teatro, me machuquei. Quase sempre, mas porque? Às vezes a culpa não é minha, é do momento e da entrega. Até acho legal um arranhão aqui, um pequeno corte ali, parece que volta a infância. Mas nesses últimos dias a coisa não foi legal não. Forcei tanto os braços e o peito, que os músculos dessas duas regiões incharam. Um uso abusivo e excessivo, num curto período de tempo, uma hora no máximo, fez com que passado três dias depois do treino eu não consiga tocar a cabeça com a mão esquerda e entrar num tratamento de injeção como medicação.
No Núcleo de Teatro andam falando que eu ultrapassei meu limite. Limite corporal. Surgiu perguntas: como conhecer o seu limite? Como conhecer o limite do outro? Como ter essa percepção? Bom, entra algumas intimações aqui e outras acolá, o que é normal.
Mas fiquei pensando se eu realmente tenho noção de meu limite. Me lembro de várias vezes no dia em que eu me machuquei, que eu fazia um exercício e os braços tremiam muito, ou eu parava de fazer, ou faltava força, ou o braço simplesmente travava. Mas continuei. Não é o corpo, é a mente travando. Isso agente lê por ai a reveria. Mas e na prática? Penso, depois dessas experiências, que realmente eu possa ter essa coisa na mente de ter que fazer algo, de cumprir uma missão como os velhos soldados. Por outro lado o limite não me intimida. Sei que pode me prejudicar, como agora - eu não posso ficar muito tempo no computador, por exemplo, que meus braços ombros e peito começam a cansar e doer -, mas mesmo assim, eu o enfrento. Do meu jeito, mas enfrento.
Talvez eu realmente seja Ícaro. Caindo trezentas vezes no mar, mil, mas que quando volta a superfície, a atmosfera já ficou para trás. Isso é perigoso por de mais, para mim mesmo.