Dentro desses dois meses, Janeiro até agora, machuquei-me fisicamente duas vezes. As duas vezes por que ultrapassei o meu limite corporal. Várias vezes, nesses três anos de teatro, me machuquei. Quase sempre, mas porque? Às vezes a culpa não é minha, é do momento e da entrega. Até acho legal um arranhão aqui, um pequeno corte ali, parece que volta a infância. Mas nesses últimos dias a coisa não foi legal não. Forcei tanto os braços e o peito, que os músculos dessas duas regiões incharam. Um uso abusivo e excessivo, num curto período de tempo, uma hora no máximo, fez com que passado três dias depois do treino eu não consiga tocar a cabeça com a mão esquerda e entrar num tratamento de
injeção como medicação.
No Núcleo de Teatro andam falando que eu ultrapassei meu limite. Limite corporal. Surgiu perguntas: como conhecer o seu limite? Como conhecer o limite do outro? Como ter essa percepção? Bom, entra algumas intimações aqui e outras acolá, o que é normal.
Mas fiquei pensando se eu realmente tenho noção de meu limite. Me lembro de várias vezes no dia em que eu me machuquei, que eu fazia um exercício e os braços tremiam muito, ou eu parava de fazer, ou faltava força, ou o braço simplesmente travava. Mas continuei. Não é o corpo, é a mente travando. Isso agente lê por ai a reveria. Mas e na prática? Penso, depois dessas experiências, que realmente eu possa ter essa coisa na mente de ter que fazer algo, de cumprir uma missão como os velhos soldados. Por outro lado o limite não me intimida. Sei que pode me prejudicar, como agora - eu não posso ficar muito tempo no computador, por exemplo, que meus braços ombros e peito começam a cansar e doer -, mas mesmo assim, eu o enfrento. Do meu jeito, mas enfrento.
Talvez eu realmente seja Ícaro. Caindo trezentas vezes no mar, mil, mas que quando volta a superfície, a atmosfera já ficou para trás. Isso é perigoso por de mais, para mim mesmo.