terça-feira, 30 de novembro de 2010

Heterônimo, qual?

Soltaram se as faíscas. E o tempo desde o sempre, ou desde o nada, o nada, continua sendo a cruz de todos nós. Vamos fundo e livre, falando e fazendo coisas, comendo e cagando: até o túmulo. Mas vou começando a compreender certas coisas. De fato, o cheiro de putrefação já não me incomoda mais, e isso não é só. É tudo. Por enquanto me limito, se devo fazer algo a respeito de mim mesmo, a correr. Corro. Ainda parado. Mas corro. Ta bem. Correrei. É que ando com essa mania de brincar com o tempo e situação. Deve ser a influência. Merda. Mas isso era aparte. Você sabe o que é? Então não dê bola. Tenha apenas cuidado com os solilóquios, esses sim são perigosos e às vezes intragáveis. O que é bom. Deveria ficar um pouco na arte da observação. Ando fazendo e praticando mais ultimamente. É repugnante a forma como aquilo fala. Os corpos deles não se mutilaram ainda, e por causa disso, que é muito, falam. A estrada se torna chata. Ela é vazia. Esta sendo vazia. Em alguns pontos foi diferente. Pontos que me lembro ainda. Foram espasmos. O que é agora? Como é agora? Onde é agora? Se eu soubesse, ou saiba, o que eu falo, ou tento escrever, talvez fizesse algum sentido. Mas não me recordo. No final quase sempre não recordo, ou não tenho conhecimento.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

relapsos

Estou com insônia. Resultado de insatisfações.

Como colocar tudo isso numa bacia?

Ela pede calma, assunto de família, morte anunciada, e doenças patológicas.

Do outro lado a terra já foi mexida e alguns anjos se chicoteiam em torno da menina que chora. A menina nem sabe que existe ainda, mas está lá chorando.

O Itinerário de atenção.

A barba do Barba.

Thor.

O silêncio de um domingo de manhã. A sala escura. O relógio marcando o nada, e fazendo nada se acabar mais cedo. E eu percebo que nada falo nesse nada. E que tanto, que tudo eu faria e vou fazer no nada. Preparo o almoço em silêncio. Como em silêncio. Cago e leio em silêncio. Nada melhor que o silêncio. Pois há muito barulho aqui.


A princesa mandou eu avisar o senhor, que ela está partindo, que não pode mais ficar aqui, tudo esta a consumindo de tal forma que ela não sabe mais o que é sorrir. Ela lhe deixa esse colar, para o senhor se lembrar dela. Agora devo ir.

Três pitadas.

Um gato branco em cima do lençol azul. A cortina se estende até o centro do quarto, pois o vento é forte. Ela ainda está no banheiro. Eu posso ir embora a qualquer momento. Estou com ela, mas sou apenas eu, imagina quantos caras poderiam estar com ela, mas que se negaram. Sai daqui gato idiota. Cortina. Vou dormir.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Que braço é esse?
Que joelho é aquele?
O que comemos?
Que barulheira é essa?

E esse cheiro?
E essa voz... no escuro...
nessa...
como assim?...

ai...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

calor

Hoje tomei banho. Limpei meus dentes. Falei com pessoas. E almocei. No caminho a minha casa andei num passo diferente. Respirei um pouco mais rápido, o que foi difícil pois estava quente. E no caminho de casa eu vi coisas: um mini-mercado, um guarda-chuva quebrado perto da calçada, ilusões pequenas, sorrisos sem dentes, pequeno seres (crianças), cavalo cinza sujo, e lixo, muito lixo. Foi divertido e excitante, pois eram bastante formas e cores que haviam. E tinha aquela coisa do movimento e textura. Tudo com a respiração rápida. E quente. Ainda está quente. Ainda devo estar com calor. Eu me esqueço em verificar isso. E outras coisas, e tenho que tomar água. É bom para saúde. Embora não a priorize ultimamente. Mas confio em minha idade. Não sou tão novo, nem tão velho, nem o meio termo. Me considero fora deles. E delas também, não tenho vagina, embora estude que a voz venha de lá. Outros dizem que vem das coxas, ou do estômago, Que cor isso tem? É um mistério. E nem todos me fazem mexer. Agora mesmo estou com uma das mãos presas no ombro. Qual delas eu não sei. Mas eu sinto, pois tenho coceira num dos braços e não consigo coçar. Chamaria alguém, mas não sei usar me voz direito. Esquerdo. Centro. Palato, órbitas, testa. Que horas são... droga meu relógio esta na mão presa, e eu não sei qual delas é. Eu deveria voltar para a rua. Mas eu me esqueci de qual lado dela eu estou.

sábado, 6 de novembro de 2010

Experimentalismo - I - Diálogo

Varanda do apartamento. Prédios de fundo. Duas cadeiras de praia, onde estão sentados os dois. Eles tomam alguma bebida. Há silêncio. Luz vinda das poucas janelas acessas dos prédios vizinhos.

Ricardo
Tem um filósofo, meio matemático, ou era um físico? Que importa? Ele fez um cálculo, que envolvia o tempo, coisas das estrelas, a porra do universo... Essas coisas. E ele chegou numa conclusão. Disse que o tempo é cíclico. Tudo isso que está acontecendo, eu aqui sentando nessa cadeira, bebendo uma cerveja, falando com você e você ai escutando e tal, isso já aconteceu. Mais de uma vez. E vai acontecer mais vezes. Não entendi direito. Nem se eu acredito. Mas, se for verdade, que merda.

Flávia
Isso é um daqueles sensacionalistas.

Ricardo
Que? Não tem nada a ver. Ele comprovou cientificamente. Há alguns séculos atrás seria impossível. Mas imaginar, tudo isso se repetindo. Só nesta hora, nessa vida, tanta coisa retorna. É meio pesado. Lembro de... Não sei se lembrar é bom.

Flávia
Ricardo, calma. Lembra o que o Cláudio falou? "Paciência! E é preciso ocupar a mente com coisas construitivas e não destrutivas!"

Ricardo
Aham. Depois de três anos. Três vidas. Três mil séculos. Se essa merda toda está repetindo, porque eu não me acostumo. Será que daqui a pouco eu vou fazer aquilo que penso desde aquela segunda. Será? A foto no jornal, o sangue coagulado, o rosto irreconhecível. Alma voando, alma sem penas. Alma despenada. Aquele sopro na nuca de alguns...

Flávia
Ricardo!

Ricardo
Às vezes penso no vento tocando meu rosto, levando ele um pouco pra trás, o ar gelado. Os cabelos leves, o corpo leve, em alta velocidade em encontro ao centro da Terra. O coração saltindando de tanta adrenalina incontrolável. Segundos eternos. Livre. Pá! Um outro ciclo de novo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Apenas do lado de lá

Camarim. Ele olha o espelho e fala com aquele reflexo que aparece, enquanto se maquia. Há luzes apenas em volta do espelho. Todo o ambiente esta escuro.

A
Não entre lá com essa cara. Haverá cegos na platéia. Haverá gente surda. Gente com medo da morte. Com o esfíncter preso a maçaneta da porta de casa. Não entre lá dizendo palavras inteligíveis. Não! O que são palavras? Os surdos precisam vê-las. Precisam ver elas caindo de todos os lados, dançando em cada músculo, rompendo o ventre, a barriga, o esôfago, os tímpanos, dentes, querem vê-las ser vomitadas, ver o vômito. Os cegos querem saber o que você vomita. Que gosto tem? Que gosto eles tem? Sentir o calor vindo de seus pés, de seu pescoço. Não crave sua morte no altar. Enterre algo há mais. Algo além. Algo incompreensível pelas palavras. Mas sentida pelo cheiro, pela cor, pela nota, pela força, energia, os músculos tensos, ritmados e incontroláveis. Todos os orifícios, canais, portas, becos, janelas, convéns, recepção, feriado, tônicas, caixão, tudo aberto, exposto! Dance! É bolero! É tango, é qualquer vento! Vento! Vento! Vento! Um pequeno sopro de tirar todo o ar dos pulmões para depois pegar mais. Deixar a cabeça latejando, os olhos vermelhos e perdidos no ponto certo, e a garganta infiel a razão rangendo o corpo em eletro-choque. Mas se por acaso tudo se esvaziar, não... Não... Isso não acontecerá! Que digo? Já faz sentido? Qual deles? O que se passou? Onde? Agora? Foi? Na primeira fileira estará ele de novo. Com seu guarda-chuva preto encostado na cadeira. Os óculos escuros, a cabeça voltada para o queixo. Pequenos movimentos dos ombros. O peito quase como uma pedra, intacta! Imóvel. O corpo todo dele. Mas... E depois? E durante? Quem fará a sua parte? Que falas? Nunca! Jamais! Não sou desses aí. Foi o que pensei quando sai de lá. Mas nunca chegou nada em minhas mãos. Não como eu queria. Bem dobrada, boa caligrafia, belíssimo discurso, palavras, palavras e mais palavras lindas! Síncope! Limítrofe! Refutar! Cutícula! Película! Flor! "Será que por acaso a flor sabe que flor?" Ai! Ai! Canibais! Morderei todos, farei uma bola alimentícia de goma de energia! Cuspir venenos! A alma presa no solo, sendo carregada pelas nuvens até o teto, e a cada canto da sala, gritando, peidando, mijando, qualquer coisa que prove que o corpo esteja respirando, operando a favor da vida! Da existência! Queimarei cada partícula de segundo. E depois de minha morte, após doar o meu corpo, meus órgãos, respeitarei os seus silêncios.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O veículo: ARTE

Onde eu andava a dois anos atrás? Três anos? Cinco?

É estranho se perceber vivo. Imaginar todo o tempo perdido e todo o tempo que ainda deve se criar. Mas foi complicado, delicioso, pertinente, excitante, amável e triste.
A cada verso novo, a cada traço na tela, nota cortante, corpo desfeito, corpo entregue, a cada segundo, a cada noção desse segundo, a cada momento em que não se percebia esse segundo, e tantos outros... O veículo da vida.
Não se trata aqui de técnica, nem de compreensão a respeito de certas normas, ou discursos. Não. Nem sobre aquele ponto da onde toda a energia se irradia, que se alastra tomando conta do ambiente todo.
Talvez seja o encontro. Grotowski estava certo. Artaud estava certo. Eles estão certos. Bataille também. Mozart. Vininha. Van Gogh. Quem mais? Todos. Tudo, qualquer coisa. Qualque coisa no limítrofe entre o nada e toda a sua essência. Naquela cadência calma, que não existe e que se torna agitada, ressoando uma nota lá em cima, que toca tudo. Num piscar de olhos, num momento seco, no outro enxarcado.
Me pergunto como será amanhã? Agora que a ignorância se faz presente. Que finalmente um mapa se estabeleceu - sem coordenadas, sem limites, territórios mil - , que a respiração é ´rápida e sem consciência.
'O corte seco ainda sangra?' 'Medíocres de todo o mundo, eu os absolvo.' 'Penso, logo, esculhambo.'
Meus amigos, minhas amigas, é feriado. O mundo dorme lá fora, e eu grito aqui dentro.