terça-feira, 9 de agosto de 2011

Brincadeira

A luz posta de maneira artesã num determinado ponto do espaço, revelado um ator de costas ao público subindo numa escada que leva ao nada. Do outro lado uma pequena luz revela pedaços de madeiras pregadas entre si. O cenário vai se tornando vida. O cenário foi ensaiado. Foi dramaticamente feito. Dramaticamente aqui se referindo como: posto em movimento, posto em ação. Vivo. Ele se contorce ao grito opaco e seco de um personagem que nasce para demonstrar loucura. Em seguida, o personagem morre. Naqueles metros quadrados agora, o personagem morre estático. O cenário agora é o cemitério dele. Quem passar por ali verá que houve vida em algum instante antes. Verá marcas de suor. Cortes de gritos e silêncios no ar. Os espectadores entraram sem saber o que veriam. E vão embora sem saber o que deixaram. O ator nada pode fazer. Vai embora deixando o espaço viver como ele deve. Carregando mais um fantasma em seu corpo. Brincando de Deus em mais uma noite. Assassinando mais uma noite. Não apenas um personagem, mas algo a mais. É perigoso. Em tempos antigos falaríamos de heróis ou de glórias, mas sem reconhecimento, sem medalhas. O ato por si só. Um ato total e vivo. Efêmero e agora morto. Impregnado na luz, impregnado na madeira, impregnado no escuro e no silêncio das cinco horas da manhã, onde os fantasmas brincam de ressurreição.

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