quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pós-Fausto: primeira voz

[lacuna 01]

O espaço era dominante. Chamativo e atraente. Mais imagens ali do que as palavras de um livro qualquer. Mas nenhum livro é um livro qualquer. Nenhuma imagem é qualquer e isso vale para o espaço. Grande! A primeira pergunta: Como fazer para eu não sumir aí no meio? Como fazer com o que eu não diminua?

Não pensar sobre isso.

[lacuna 02]

(procurar uma música para escutar)

As ações foram programadas para outra cena. Para outro lugar. Outro encontro. Modificadas. Adaptadas e exorcizadas novamente para esse espaço novo. Agora, somente eu. Sozinho. Queimando sozinho. Ou no mínimo tentando ser sincero. E, de repente, o espaço vai sendo preenchido. Vai se metamorfoseando. As imagens aparecem claras agora. Turbilhão de idéias. O corpo está fazendo o seu papel: capitão do mato, abrindo o caminho para o resto passar! O que é o resto? É tudo o que não sei falar. É tudo aquilo que na hora deixa de existir. A pele se rasga. Os órgãos se soltam e caem no chão. Os ossos balançam e caem como que jogados cova a dentro. O que é esse resto? Como dissecar essa ação? Como descrever uma ação que é viva no mesmo momento em que ela morre. Tão eterna como isso que era antes de eu escrever esse agora. Confuso? É efêmero. Só os vivos entendem. O espaço se torna pequeno depois disso. É preciso derrubar tudo para poder tocar a Lua.

[ lacuna 03]

O medo. O medo primeiramente deve ser reconhecido. Cercado, mas não atacá-lo de primeira. Deixa ele ali. Deixe ele saber que estás a espreita. Que tem a vontade numa mão e o problema na outra. Mas dependendo do tipo do medo. Sem ele você pode cair. Sem ele o frio não vai ter. Não vai ter a preocupação antecipada, o amor e delicadeza para uma certa ação. Sem o medo alguma coisa pode dizer que tudo vai sair bem. O pé tem que ficar atrás! Não há conforto! Não deve haver conforto! Deve haver uma clareza? Sim. Deve haver domínio? Sim. Deve haver entrega? Sempre! Mas enfrentar o medo te coloca em outra posição. Você anda diferente, fala diferente, olha de outra forma. Olha com raiva! Com vontade de abrir um buraco na parede com a voz. O medo te coloca em alerta! Em alerta! Pronto para ação. O corpo em estado de perigo e pronto para correr, fugir, atacar, esconder, se jogar...

[lacuna 04]

Deus está morto!
Ando descalço e meus pés são negros por causa da terra que piso.
Terra fresca... molhada da chuva... de choro!
Marcas desconhecidas, da entrada do cemitério até aqui, indicam que pessoas estiveram aqui recentemente.
Mas...(pausa longa)
Como fizeram isso? (pausa) Como matar um homem? (olha para as mãos longamente) Hein? O que fazer quando sentimentos tão nobres e violentos tomam conta de seu ser?
(baixa as mãos, olha para cima durante um tempo, olha para uma das velas ao seu lado)
Durante muito tempo dediquei o que havia de mais valioso em meu ser a uma única força.
Diante de tanta imensidão, minha fala encontrou-se abafada, minha visão encontrou-se turva, meus ouvidos eram tão inúteis como todo o conhecimento que gerei.
Mas assim mesmo me mantive intacto.
Mesmo assim, cada gota de suor era ingerida como dádiva minha.
Meu espírito era o que sobrava de mim... ou de você?
O que era de mim? O que me torna dono de mim mesmo?
Estou caindo num lugar onde não existe. Fim de começo.
(sopra todas as velas)
Existem coisas entre os meus eus que são universos de escuridão.
Sobre isso nada tenho que contar.
(pausa longo)
Aqui jaz Deus! Sangrou até a morte!
(silêncio)
Sou Fausto, e pouco me interessa o Diabo ou Deus.

[lacunas............]

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