sábado, 6 de novembro de 2010

Experimentalismo - I - Diálogo

Varanda do apartamento. Prédios de fundo. Duas cadeiras de praia, onde estão sentados os dois. Eles tomam alguma bebida. Há silêncio. Luz vinda das poucas janelas acessas dos prédios vizinhos.

Ricardo
Tem um filósofo, meio matemático, ou era um físico? Que importa? Ele fez um cálculo, que envolvia o tempo, coisas das estrelas, a porra do universo... Essas coisas. E ele chegou numa conclusão. Disse que o tempo é cíclico. Tudo isso que está acontecendo, eu aqui sentando nessa cadeira, bebendo uma cerveja, falando com você e você ai escutando e tal, isso já aconteceu. Mais de uma vez. E vai acontecer mais vezes. Não entendi direito. Nem se eu acredito. Mas, se for verdade, que merda.

Flávia
Isso é um daqueles sensacionalistas.

Ricardo
Que? Não tem nada a ver. Ele comprovou cientificamente. Há alguns séculos atrás seria impossível. Mas imaginar, tudo isso se repetindo. Só nesta hora, nessa vida, tanta coisa retorna. É meio pesado. Lembro de... Não sei se lembrar é bom.

Flávia
Ricardo, calma. Lembra o que o Cláudio falou? "Paciência! E é preciso ocupar a mente com coisas construitivas e não destrutivas!"

Ricardo
Aham. Depois de três anos. Três vidas. Três mil séculos. Se essa merda toda está repetindo, porque eu não me acostumo. Será que daqui a pouco eu vou fazer aquilo que penso desde aquela segunda. Será? A foto no jornal, o sangue coagulado, o rosto irreconhecível. Alma voando, alma sem penas. Alma despenada. Aquele sopro na nuca de alguns...

Flávia
Ricardo!

Ricardo
Às vezes penso no vento tocando meu rosto, levando ele um pouco pra trás, o ar gelado. Os cabelos leves, o corpo leve, em alta velocidade em encontro ao centro da Terra. O coração saltindando de tanta adrenalina incontrolável. Segundos eternos. Livre. Pá! Um outro ciclo de novo.

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